Cimento:apesar dos ganhos de eficiência as emissões sobem

Artigo de Matheus Bueno e Ricardo Abramovay. 2012.

A reestruturação dos paradigmas produtivos torna-se, com as mudanças climáticas,  não apenas necessária, mas estratégica para o alcance de uma economia de baixa emissão de carbono. A construção civil e, em particular, a indústria do cimento emergem nesse panorama como setores essenciais para a redução das emissões de carbono nacionais.

Nesta pesquisa foram analisadas as emissões de CO2 do setor da construção civil, especialmente da indústria cimenteira. Esta indústria representa, isoladamente, cerca de  6,8% das emissões nacionais de CO2, excluindo as emissões oriundas de mudanças no uso da terra e florestas.

Observou-se que as emissões da indústria cimenteira originam-se, em sua grande parte, em processos químicos do qual resultam o cimento e no uso de combustíveis fósseis para a sua produção. Embora as emissões unitárias de cimento tenham diminuído nos últimos anos, observa-se que as emissões totais crescem rapidamente com o aumento do consumo do material (Figuras 1 e 2).

Figura 1

Fonte: José Antônio Ribeiro Lima (2010) – Adaptado – Avaliação das conseqüências da produção de concreto no Brasil para as mudanças climáticas

 

Figura 2

Fonte: Autor (2011)

Como medida de redução das emissões nesta indústria, a substituição dos combustíveis utilizados na produção de cimento destacou-se como a alternativa mais promissora atualmente, em relação às medidas de eficiência energética e de mudanças na composição do material. Especificamente, uma mudança da atual matriz energética, altamente concentrada em coque de petróleo (Figura 3), em direção a uma maior utilização de combustíveis menos emissores  mostra-se viável técnica e economicamente.

Figura 3

Fonte: Balanço Energético Nacional (BEN, 2010)

Nesse sentido, práticas como o co-processamento e/ou a adoção de combustíveis como gás natural, biomassa de resíduos agrícolas e lenha emergem como alternativas que trariam, sob certas condições, segurança de oferta energética,  baixo impacto ambiental e fornecimento de energia a baixos custos.

A redução das emissões de CO2 da indústria do cimento no sentindo apontado passa necessariamente pela resolução de problemas de coordenação e institucionalização de mercados de combustíveis alternativos, de forma a possibilitar sua adoção em larga escala.

[matheus.bueno arroba usp.br / www.nesa.org.br]
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