O mito do veneno que salva (2)

Ignacy Sachs comenta artigo sobre a prevista expansão da exploração dos fósseis e propõe agenda de pesquisa

Após ler o artigo , disponível na coluna Empreendedor Social do jornal Folha de S. Paulo, o economista Inacy Sachs enviou o email abaixo:

Caro Ricardo,

Acabo de ler o seu importante artigo. A conclusão a que cheguei é que não deveríamos tardar na elaboração de um plano mundial de produção e consumo de energia capaz de atender às necessidades de todos os que estão na base da pirâmide social mundial.

Os temas a serem tratados:
a) minimizar os impactos negativos sobre o meio ambiente através de uma escolha apropriada das fontes de energia e das técnicas de produção, substituindo sempre que possível as energias fósseis por energias renováveis (questão em aberto: queremos ou não nos aventurar na energia nuclear?);
b) ao mesmo tempo, limitar o consumo perdulário da energia por parte das elites privilegiadas e os desperdícios que ocorrem ao longo de toda a cadeia de produção, distribuição e consumo.

Mais fácil de dizer do que fazer. De qualquer maneira, não podemos mais nos omitir da discussão de quotas de energia fóssil per capita a serem respeitadas para não precipitar catástrofes ambientais de consequências graves.

Quem poderia assumir a responsável e, por certo, difícil tarefa de equacionar este tema?

Seremos amanhã 9 bilhões. De quanta energia per capita necessitaríamos, ao postular níveis de vida e conforto razoáveis para todos e portanto convergentes, levando em conta as diferenças climáticas e os desníveis atuais de desenvolvimento socioeconômico?

Minha hipôtese de trabalho: sim, ainda podemos desenhar estratégias viáveis, à condição de não nos omitirmos da discussão dos limites ao consumo de energias fósseis a serem impostos aos grandes consumidores. As grandes questões a serem estudadas:
– Qual a margem de manobra para reduzir o perfil da demanda energética por unidade de consumo final através do progresso técnico e da diminuição das distâncias a serem percorridas entre o lugar de produção e de consumo?

– Quais as barreiras para aumentar significativamente a eficiência no uso das energias fósseis (veja o livro de Robert e Edward Ayres, Crossing the Energy Divide: Moving from Fossil Fuel Dependence to a Clean-Energy Future,Prentice Hall, 2009)

– Qual o potencial de substituição das energias fósseis por energias renováveis?
– Qual o futuro para a energia solar, levando em conta os progressos técnicos rápidos em curso (cf. Robert Ayres)?
– Qual atitude frente à energia nuclear?

Obviamente, a resposta a estas perguntas implica sermos capazes de pensar o longo prazo e traduzí-lo em planos plurianuais de desenvolvimento a serem elaborados simultaneamente a nível dos Estados-Nações e das grandes regiões, esta última tarefa a cargo das comissões regionais da ONU.

Saudações cordiais e até breve,
Inácio

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Dal Marcondes
1 ano atrás

A discussão, ou talvez seja melhor definir como “o projeto” proposto pelo professor Sachs é estruturante em relação, não apenas a uma redistribuição do acesso às energias disponíveis no planeta, mas à limitação do uso de fósseis ao minimum minimorum. O acesso à energia de boa qualidade é fundamental para a eliminação da desigualdade em todas as suas vertentes.

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